quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Romper com a visão aparente

Talvez a lua já tenha deixado de ser o LSD dos poetas. Como poderemos vê-la hoje nos despindo de todo o referencial científico que, mesmo que não entendamos, aceitamos pela autoridade com que sua linguagem se exprime? O brilho cinzento daquela esfera que vemos no céu não está nos atingindo a partir de múltiplos significados que já inspiraram as mais sedutoras e terrenas/transcendentais histórias que mentes ébrias e noturnas já contaram. Este satélite, mesmo que do amor como já cantaram alguns poetas de menor escalão, agora tem suas funções específicas: regular e ordenar aspectos do nosso planeta, mesmo que a velha gaia às vezes reclame da maneira como estes “avanços” do conhecimento a tratam.

Copérnico rompeu com as visões aparentes. Era esta mesma terra que girava em torno do sol, não ao contrário. Marx fez o mesmo com o social. O progresso era só uma aparência, não atendendo a todos da mesma maneira. Descobri isto no verão de 2006. A forma de ver o mundo ao redor mudou, a partir de agora não eram mais as pessoas que não tinham capacidade de alcançar o sucesso, pois o próprio sistema se sustentaria a partir dos fracassos generalizados. As pessoas eram vítimas, meus vizinhos eram vítimas, minha mãe era vítima. Estudar a História como uma peça fundamental de atravessar essa névoa ideológica que cobriria a visão de mundo do capitalismo. A História chegaria lá, como Indiana Jones chegou á Arca da Aliança apesar de todos os tiros dos nazistas.

Romper com a visão aparente significaria um duro caminho. Como o próprio Marx se isolou para desmontar a estrutura do capitalismo, seria necessária uma disciplina cristã para entender como era possível a sua superação. Silêncio! Cientista social fazendo ciência! Silêncio! Para descobrir o véu que cobre toda a realidade concreta com suas distorções ideológicas se faz necessária a autoflagelação de quem encontrará a verdade. Assim a palavra poderá ser revelada!

A lua, o LSD e os poetas, assim como o sol, não giram mais, não se movimentam como possibilidades de criação. Esperemos a avaliação de como eles podem se encaixar no ordenamento do futuro. O futuro como um fim em si mesmo, não como parte do presente...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Compartilhar? Só meu cuspe na sua cara!

Mas que coisa séria. Onde está meu rock n roll? como já cantou Arnaldo Baptista. Eu sei que a prática e a teoria não existem, pois não formam uma dicotomia e muito menos como duas coisas que podem ser separadas como o salário do empregado e a mais-valia. Mas está difícil sustentar certos discursos, principalmente quando eles pressupõem a solidão, quando não podem ser compartilhados, pois a máquina de guerra é exterior ao Estado e não pode se reduzir a identidade.

Compartilhar as dores de certos discursos que se procura sustentar fazem automaticamente com que a exposição seja necessária. E isto é um perigo real e imediato, conforme um título de um filme com Harrison Ford. O tema em questão não é a conspiração para derrubar o poderio estadunidense que deveria ser protegida pelo super agente. O tema em questão se refere a micropolítica, a algo que vocês, por mais avançadinhos (e mentirosos portanto) que sejam, não conseguem fazer. Sim, sabia que existe algo que vocês não podem fazer? Existem muita coisas que vocês não podem fazer, e vocês não podem nem imaginar o que.

É mais difícil ainda aceitar que o fato de não conseguir compartilhar a sustentação deste discurso pode nos fazer apelar para aquilo que é normal, que é natural. Foda-se! Jogue na cadeia mesmo! Ninguém dá a mínima! “Eu não quero mais saber”, pois seguindo o curso “natural” das coisas pelo menos eu posso compartilhar. Se nossas identidades só podem se compor a partir do contato com o(s) outro(s), esse(s) outro(s) pode(m) significar o carpinteiro que moldou o caixão no qual devemos deitar, receber as flores, e os votos de felicidade em um além-mundo.

E então? Fodam-se todos vocês! Vou ter que engolir isso sozinho mesmo, junto com a cachacinha que vai fazer com que desça mais suave. Prefiro, em alguns momentos, não compor nada com essa porcaria de outro que só vai servir pra me apontar o dedo. Então quer saber? Pega esse dedo e enfia no seu cu!!!!!!!!!!

Notas para um possível Currículo de Boteco (Parte IV)

Ele abriu os olhos. Alguém o cutucava no ombro. A primeira coisa que enxergou de maneira embaralhada não foi o baralho, mas o relógio apontando as horas: 3h00min. Virou vagarosamente a cabeça, já que estava pesada e latejando de dor e viu o rosto do quase tão feio quanto o cara que era mais feio do que ele. O dono do bar. Olhou ao redor, mais ninguém além dos dois e da sujeira que se acumulava por gerações ali. A TV ainda estava ligada, agora passava um filme antigo. “Por que a TV é muitas vezes muito melhor na madrugada, quando quase ninguém está assistindo”, pensou com dificuldade. Era hora de ir embora.

Gostou daquilo que pensou enquanto estava adormecido pela bebedeira e pela derrota. “Com certeza”, disse a sim mesmo, “na academia não iriam aceitar muito bem estas idéias, já que não fui capaz de sintetizar a proposta e teorizar mais sobre ela”. “Apesar”, continuou, “de em vários momentos evocar a necessidade científica de tal currículo, não consegui chegar a uma proposta de tal magnitude”. “Na realidade é só um emaranhado de idéias de um velho professor que está muito bêbado e que passa a maior parte do tempo gastando a deterioração que chamamos de vida no bar”. Talvez ele pense mais sobre isto amanhã, sintetize melhor estas questões que só se abrem, num se abarcam em um circulo perfeito que pode ser nomeado.

Talvez não. Talvez esqueça isso e continue levando o boteco na brincadeira e continue a lecionar com seriedade. Afinal, esta proposta não tem nada de pretensiosa, não vai criar sujeitos universais e críticos que irão, em um eterno futuro, derrubar os atuais governantes e criar um mundo ao estilo do jardim do éden. E muito menos, como já imaginou antes, ele mesmo tenha vocação para Jesus Cristo. Não sabemos como ele vai acordar amanhã em relação a isto. A única coisa que temos certeza é de que a ressaca vai ser feia. Não podemos ter certeza de muita coisa, só podemos talvez nos divertir um pouco no momento, assim como o Currículo de Boteco pretende.