quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Manifesto pela vida real

Eu, sinceramente, prefiro tomar no cu a ter que carregar essa responsabilidade. A barriga está ali já há uns malditos vinte anos, e deverá permanecer ali por talvez mais vinte. Custe o que custar. Nem que, para que isso aconteça, todas as relações tenham que girar ao redor dela. O antigo rei na barriga e a atual ditadura da barriga. Ela tem que permanecer sempre dura, resistente a tudo e a todos. Podem dar porrada à vontade! Ela agüenta. Ela não conhece a bebida alcoólica, ela não conhece qualquer substância degenerada. Ela só conhece aquilo que mantêm, não o que transforma. Talvez sentimentos também não são questões que passem por este modelo da barriga contemporânea.
Barriga de grávida: Também tão valorizada no nosso tempo. Barriga deformada e a barriga ideal. Contradição? Dialética? Estrutura do capitalismo?
Enfim, isso acaba não interessando. O que interessa mesmo é que a flacidez está no mundo. No dia-a-dia as barrigas flácidas andam pra lá e pra cá, se movem em ondas através das diferentes atividades do ser humano. Na corrida para pegar o ônibus, na respiração e na hora do sexo. Existem barrigas flácidas para todos os gostos.
As barrigas-modelo são puro photoshop (ou outra tecnologia que eu desconheço). As barrigas-cópia transitam pelo imaginário e tentam ordenar o mundo. As barrigas-simulacro, desordeiras, estão na vida das pessoas. Seria correto dizer que as barrigas-simulacro produzem mais vida do que as barrigas-cópia? Certamente elas estão ali mais frouxas e flexíveis, podem criar mais que as barrigas-cópia, reféns de uma eterna juventude e imobilidade. Questão orgânica, bio-filosófica-política.
Se olharmos mais de perto as barrigas-simulacro (podemos dar um beliscadinha também, afinal, são macias e fofinhas), veremos que existe a grande possibilidade de percebemos que elas são reais. Pura realidade material. Não são algo a ser necessariamente trabalhado para que se transforme no sujeito consciente e universal. Elas vão resistir! Elas têm potencial revolucionário do jeito que são.
Aí é que está. Se a diferença vem primeiro, se a partida do modelo ideal e das cópias são pura metafísica, os simulacros podem nos mostrar que a vida acontece, mesmo que não alcancemos aquilo sempre esteve no futuro. Eu não gosto de tomar no cu, e talvez também não goste da minha barriga-simulacro, mas não quero essa responsabilidade da barriga-modelo.

3 comentários:

  1. E aí Diego? Blz?
    Curti afu tua postagem, espero que continue escrevendo.
    To seguindo teu blog (essas modernidades!). Da uma olhada no nosso, se quiser, faça parte também!
    Beijo!

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  2. gosto muito de texto aforismo! ele nele mesmo, é!

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